DEDICATÓRIA
Dedico este texto a todos os que têm vontade de escrever, mas acham que não sabem fazê-lo. Sabem sim. É só soltar a mente, devagarinho, começar a ouvir o que o coração tem a dizer e não reprimir as idéias com pensamentos negativos ou se auto-censurar: a princípio, todas as idéias são boas, e devem ser ouvidas, consultadas pelo seu bom senso, e, anotadas.
No seletivo processo de criação, umas idéias florescem, outras, não. Tudo depende da confiança que depositamos nelas, e do grau de importância que atribuímos a elas dentro do cenário em que queremos inseri-las. Sem confiança, as palavras não vingam... perdendo a mágica de comunicar.
Porém, para poder escrever um texto razoavelmente bom, além de a princípio não desprezar nenhuma idéia que lhe venha à cabeça, é preciso deixar a preguiça de lado, pois, com certeza, você terá de refazê-lo muitas vezes, até que ele fique perfeito, aos seus olhos. Estando pronto, mostre-o a alguém que entende mais do assunto. Esse alguém, se tiver o mínimo de profissionalismo, com certeza, irá lhe apontar as diretrizes a ser seguidas e fazer observações que podem ser positivas ou negativas (a crítica faz parte). Só assim, com esse empenho todo, o seu texto terá chance de trazer-lhe orgulho e de correr mundo.
Escrever demanda coragem em todos os sentidos. Vamos tentar?
O GERMINAR DAS PALAVRAS
Antes de nascer no papel, antes mesmo de nascer na mente, um texto nasce primeiro sempre no coração. É lá, nas profundezas do coração, que, tímido, ele nasce sequeiro. Porque, se o coração não pedir, o cérebro não irá obedecer-lhe. E, abortadas, as palavras murcharão.
Desde que se firmou como fiapo de vida, ao não ser repudiado, o texto começa a ser regado, aguado, como as margaridas brancas do jardim... Devotando-lhe confiança, ainda que fragmentado, alimentado - o texto começa a emergir em forma de palavras, de idéias soltas, e passa a ser trazido maneirinho... maneirinho das nossas profundezas para a superfície rasa da mente, como se fosse ele folhas levinhas de angico, que, frágeis, nas divagações, facilmente se desagregam com o vento.
Aceito, o texto lapidado em forma de idéias volúveis, prepara-se para germinar, depois de hibernar na mente. Porque, quando o ambiente é propício, tudo ao seu redor conspira a favor de uma vida em gestação. E então, oxigenadas, as palavras começam a ganhar forma. E numa bela manhã de sol, finalmente, o texto nasce.
Começa, a partir daí, uma grande batalha pela sobrevivência das palavras, parecida com aquela que acontece com a corrida dos espermatozóides: as idéias borbulham, arranjam-se e desarranjam-se expressões, períodos, frases, sinônimos, numa luta constante, donde, excêntricas, todas as palavras e todas as idéias querem sobreviver, prevalecendo umas sobre as outras, embora nos obriguemos sempre a ferir o orgulho da grande maioria delas. Porque, um bom texto, para poder firmar-se em sua categoria, precisa ser, no mínimo, coerente. Logo, tal como na lei da fecundação por vias normais, via de regra, só uma idéia vence como estrela guia: a principal. O resto vira coadjuvante ou fica guardado no baú para outra oportunidade
Um bom texto costuma ser muito seletivo e muito ordeiro! E obedecendo a toda essa seleção natural, então..., numa bela manhã, o texto brota.
Aberto o artista à criação, as idéias vêm em relances, e vêm em repentes, em golinhos de lampejos estabelecidos pela memória e pela inspiração, como se fossem luminosos relâmpagos, reflexos entre o claro e o escuro, entre o consciente e o inconsciente... E, depois de muita dedicação, quando menos se espera, numa bela manhã de sol, o texto brota, tomando conta do papel e de você, como se fosse um filho!
O texto, antes mero embrião, agora cresce, toma forma e ganha vida própria, depois de ser lido, relido, remexido e alterado dezenas de vezes. O texto anda, corre, vibra, mexendo com todo o sistema nervoso do seu criador que, apaixonado por ele, fica em perene estado de alerta, porque tem consciência de que o amor o põe cego. Impossibilitado de enxergar os próprios defeitos do seu discurso interior, prudente, o autor cai na tentação de mostrá-lo a alguém, obrigatoriamente, com maior rigor crítico. ...E, se esse alguém também se apaixonar pelo seu amontoado de escritos, imediatamente, o combinado de palavras sai das cercanias do escritório, passa pelo jarro de cristal da sala, ganha a rua e passa a povoar as idéias de outrem. Andejo, o bom texto “fica falado,” empoeira-se de tanto bater perna, corre mundo passando de boca em boca. Ele perturba, arrepia, aguça os sentidos provocando frenesi... O bom texto ganha status de gente, e até de personalidade, e tem o poder de provocar as mais diversas reações. Longe do efêmero, o bom texto não cai de moda e consegue transpor as barreiras do tempo, eternizando-se na mente de quem o lê.
Pessoas queridas: salvo o brilho da leitura pessoal feita pelo olhar de cada um conforme a sua visão de mundo, porque visão é dom de Deus, e nem tudo na mente é agricultável de entendimento e de explicação lógica -, é o tamanho da nossa persistência e do apego às nossas idéias que determinará que tipo de texto será o nosso, que tipo de escritor seremos nós. Cultura é importante. Diploma acadêmico, necessário. Talento é imprescindível. Porém, sem empenho, os três quesitos acima perdem o devido valor. Porque um bom texto se faz principalmente com dedicação. E dedicação inclui desde refazê-lo inúmeras vezes a ler muito. Ao estar brincando com as palavras, quando você ponderar que o seu texto já está bom, refaça-o mais umas cem vezes... e quando você julgar que já leu muito, leia mais, muito mais. Mais ainda. Devore montanhas de livros como se eles fossem apetitosos pudins de leite condensado...!
Seja movidos pela necessidade, ou pela própria vontade de escrever, atentemo-nos sempre aos princípios básicos. Mas não sejamos escravos das regras a ponto de deixar que elas influam na qualidade criativa do nosso trabalho, agindo como agentes podadores: mergulhadas em verborragias, palavras boas podem virar um insuportável pântano catinguento. E, diferentemente a isto, longe de excessos, às vezes, um texto gigante pode ser formado apenas de uma só palavra. ...No entanto, há textos verborrágicos maravilhosos, e textos sintéticos que tudo dizem, e textos politicamente corretos do ponto de vista da coesão, da gramática e da ortografia que são uma verdadeira droga! E vice e versa! Embora essa questão de fazer ou não algo que se propõe a executar com perfeição esteja muito relacionada com a questão dos dons atribuídos a cada um – considero encorajador e verdadeiro afirmar que todos nós podemos escrever excelentes textos. O importante é dar o melhor de si. Afinal, quem foi mesmo o alienado que disse que somos obrigados a ser bons em tudo?
Quando se trata de sentir a hora certa de continuar exaustivamente a remexer no que escrevo, no meu caso, na minha tosca oficina particular, é quando, entusiasmada, já sinto vontade de colocar o meu nome embaixo dele, julgando-o já inteiramente concebido.
É nessa exata hora, em que já prevalece a minha percepção sobre o todo, mas que, se encontram ainda muitos pontos mal iluminados sobre o que escrevi, que procuro acender a luz vermelha do alerta sobre os pequenos detalhes. Atentar-se ao bom senso sem cair nas armadilhas da lassidão do ócio é uma forma de não pecar com o perigoso comodismo. Julgando o meu texto acabado, é chegado o momento de percorrer exaustivamente todo o trajeto da sua formação, verificando com cuidado se a minha inspiração e a minha transpiração realmente já se esgotaram. Não raras vezes, depois de assinar o meu nome precipitadamente num trabalho, eu ainda o remexo dúzias e dúzias de vezes.
...Se, por acaso, fossem indagados sobre o assunto em questão, que trata o tema central deste texto - estratégicos e interesseiros-, o Marketing e a Publicidade, respectivamente, nos passariam o sermão de que devemos ser perfeccionistas ao extremo quando se trata de confeccionar textos. Afinal, devemos fazer tudo para agradar em primeiro, aquele que será, quem sabe, o nosso futuro “cliente” potencial. Mas como sou da pá virada, eu diria apenas que devemos procurar fazer tudo perfeito para encantar primeiramente a nós mesmos, pois um texto que não consegue encantar a si próprio, não é digno de encantar a mais ninguém!
VERA FORNACIARI
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
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3 comentários:
Você estaria enteressada em firmar um parceria entre nossos blogs?
mulheresdeuberlandia.blogspot.com/
você colocaria o meu banner em seu blog, e vice-versa!
Abraço
Realmente,muitas pessoas têm medo de outras pessoas críticarem e issso deixa as pessoas inibidas para exporem suas ideias.Mas devemos continuar escrevendo sem medo de críticas.
Alunos: Alexandre,Flavio e Jonata
Escola Municipal Professor Eurico Silva
oitava série sala 09
Vera,
Em 2007, vali-me dos textos do seu blog, em minhas aulas de Português (8ª série), da Escola Municipal Professor Eurico Silva. Os alunos muito cresceram em compreensão e interpretação de textos. Os temas por você abordados, sua forma de expressão enriqueceram a unidade "leitura e escrita". Em 2008 continuaremos contando com seu blog.
Parabéns.
Profª. Marta Pereira de Almeida
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