ORAÇÃO CONTRA O MAL BÍBLICO
Para quando a inveja bater mais forte:
Ensina-me, Senhor, com tua infinita sabedoria, a dobrar os meus joelhos em sinal de humildade, para que eu possa compreender com resignação as fraquezas dos que me invejam, perseguindo-me, e a superá-las com toda a serenidade da minha alma. A inveja não é um mal do tempos modernos – ela é bíblica. Logo, um mal generalizado e incurável, presente no nefasto coração humano, como sendo resultado da ambição, e prima-irmã da frustração.
Ajude-me, Senhor, com tua bondade, aprender a perdoar de coração aos que tecem comentários maldosos sobre os feitos do meu trabalho limpo e desinteressado, que eles sequer conhecem bem para julgá-lo com sabedoria. Os meus feitos, não se tratam de pieguices, são humanidades: nesta vida, nem tudo se resume à alegria descompromissada do axé, à leveza artificial e mentirosa dos comerciais de shopping centers - embora a tendência do superficial mundo globalizado seja mesmo a de transformar tudo numa grande gargalhada -, inclusive, as trágicas questões socias.
Senhor, ensina-me a lidar com sabedoria com os ingratos, que, volúveis, têm memória curta e facilmente mudam de lado conforme o sabor da sua conveniência. Ajude-me a lidar com os dissimulados que me sorriem, mas que, pelas minhas costas, me blasfemam com comentários maldosos, machucando-me, só porque temem que eu cresça.
Faze com que entendam, Senhor, de que levar a cabo as minhas convicções, defendendo-as, não se trata de irreverência: uma pontinha de orgulho profissional faz parte do universo daqueles que acreditam na luz própria do seu trabalho, já que será justamente esta auto-confiança que determinará que tipo de profissional serei eu amanhã.
Ai, Senhor, mas livra-me, principalmente, do fantasma dos inseguros, que, sentindo-se diminuídos diante da capacidade do outros, tudo temem, enxergando ameaça nos gestos mais aleatórios.
Bem o sabes, senhor: o pouco que realizo é fruto exclusivo de minha dedicação, fazendo bom uso dos dons que me deste. E como tu mesmo pediste, em vez de enterrar o meu talento – mostrei-o! Ah, Senhor, que idéia mais infeliz foi a minha mostrá-lo...: mal sabia eu que tão logo uma estrela desponte no firmamento, sem querer, a pobre faz sombra a milhões de outras estrelas, que, ofuscadas, se arremessam furiosamente contra ela, munidas de extintores na mão, porque o seu brilho solitário contraria interesses e projetos de ambição.
Senhor, desde que nos abandonaste no Jardim do Éden, condenando-nos ao trabalho, o mundo virou essa luta cruel pela sobrevivência que é hoje, donde uns passam impiedosamente sobre os valores dos outros, na tentativa de sobressair.
Nós, Senhor, pessoas de bem, que não temos voz para nos defender porque por conveniência ninguém nos ouve, estamos terrivelmente sós neste Jardim..., cada qual padecendo dos caprichos da sua tal cadeia alimentar... Por isso, Senhor, é a ti que recorro, pedindo livramento dos que se perderam em seus sonhos e procuram desesperadamente repatriá-los às minhas custas: os pobres de espírito sempre acharão que a vida lhes deve algo, julgando-se, invariavelmente, no direito de querer as coisas só para si: farinha pouca, meu pirão primeiro.
Livrai-me também, Senhor, da fúria dos emergentes, do descaso dos que pobremente se apegam à sua fresca juventude e aos seus patéticos diplomas, dos que sofrem do mal crônico da falta de talento e de habilidades, tentando se impor a força.
Por incrível que pareça, Senhor, arbitrariamente, por mais que já tenham me prejudicado, esses, são os que realmente mais me ajudam a crescer, porque é para eles que eu sabiamente rezo todas as noites antes de dormir, pedindo que Deus os livre da inveja predadora!
Abençoai, Senhor, os que me admiram largamente ao ponto de me invejar, intencionando apagar prematuramente a luz do meu parco sucesso, na tentativa de abalar a minha auto-estima. Abençoai-os a fim de que, como eu, eles também consigam realizar-se em suas profissões e em seus projetos pessoais de felicidade, detendo-se neles com tamanho afinco, a ponto de, esclerosados de felicidade, esquecerem-se completamente do meu nome.
Senhor, tu que conheces o meu coração profundamente, bem o sabes que pouco sei e que pouco tenho. E que mau não sou. Por isso, eu te rogo que o pouco que possuo seja colocado em constante vigília e oração a favor, inclusive, daqueles que desejam o meu fracasso, a derrocada das minhas idéias e da minha cabeça gasta ( mas cheia de vontade juvenil de mudar o mundo); daqueles que invejam a paz da minha vida pobre, o achonchego da minha família pequena, mas, plena de amor..., a fim de que, como eu, eles também, como legítimos filhos de Deus, igualmente recebam graças.
Para que enfim, distraída de tantas perseguições, eu possa finalmente viver a minha vida e as minhas abstrações em paz, e usufruir sem mágoas daquilo que a mim por pequeno mérito tentas me conceder...
Louvado sejas. Que assim seja.
VERA FORNACIARI
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
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4 comentários:
Um tema abordado de forma magnificamente lírica só pode "brotar" de pessoas cuja proficiência e cujo bom caráter são inquestionáveis. Seus textos dialogam com nossa alma. Continue nos presenteando.
Profª. Marta Pereira de Almeida
Vera, Primeiramente quero parabenizá-la pelo excelente texto. Na intenção de encontrar a Professora Marta Pereira Almeida pelo site de buscas é que eu me deparei com esta obra-prima. E nas palavras desta excelente Profª. despeço-me pedindo que "continue nos presenteando."
Como é lindo este texto!Tocou-me profundamente em meu coração.Palavras doces que tão bem retratam o mundo como ele é.
Parabéns!Você tem uma alma divina
Profª Joana
Prof@ Joana,
Meu Deus, como a Senhora abordou o mal de toda a humanidade de forma lírica e verdadeira, só mesmo Deus para nos dar o livramento das maldades dos homens, como aprendi com sua oração.
Deus te ilumnine hoje e sempre!.
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