quarta-feira, 1 de agosto de 2007

MONÓLOGO DA DESPEDIDA

MONÓLOGO DA DESPEDIDA

Talita:

Agora que a pressa e a juventude se foram com a sua vida cessada, e que você já mora em paz no jardim dos mortos - vou lhe contar um segredo: nós, atribulados viventes, seres humanos cristãos, temos muita dificuldade em compreender e aceitar os desígnios de Deus quando se trata de lidarmos com a dor da morte. Porque a morte representa, para nós, um quarto escuro, um terreno desconhecido, um pântano coberto por véus de mistério: o homem, com toda a sua sabedoria, a sua ciência e filosofia, ainda não conseguiu sequer compreender a morte – quanto mais superá-la!
Foge à nossa capacidade compreender como alguém que esteve ao nosso lado até há pouco, de repente, já não está mais - fechou os olhos para sempre, deixando os nossos corações angustiados, feridos de ausência, muitas vezes, sem ao menos ter tido a oportunidade da última despedida.
Mas, quem somos nós, seres de olhar de limitado alcance espiritual - para discutirmos a vontade daquele que tudo sabe e tudo pode?
E é por isso que, resignados, volta e meia ponderamos: ... Deus também precisa de anjos no céu para a concretização da sua obra... E deve ter sido por isto que ele a arrebatou, Talita – logo você foi a escolhida... Logo você, tão jovem, tão terna, tão cheia de sonhos...
Você tinha sonhos, Talita. Mas Deus tinha outros planos para a história da sua vida.
A nossa correria diária, o nosso egoísmo inerente a nós mesmos fazem com que nos esqueçamos frequëntemente de que a nossa vida não nos pertence. A nossa vida é dom de Deus, e só ele tem o direito de arbitrá-la. Por isso, quando no céu sobe a demanda por anjos, Deus vem a terra tomar de volta as nossas vidas que nos estavam apenas emprestadas.
Um dia, uma a uma ou em bandos, todas as nossas vidas serão levadas de volta ao juízo de Deus.
Nós aqui presentes, e representando aqueles que se fazem ausentes, estamos apenas no quinto período de publicidade na UNITRI, e tantas coisas já vimos acontecer neste tempo novo: muitos dos nossos companheiros já ficaram pelo caminho por diferentes motivos. E agora é você que também nos deixa, Talita. Mas, de todas as idas, de todas as partidas, de todas as perdas, Talita, você foi a mais triste, porque sabemos que você não voltará. Você não entrará por aquela porta, você não retomará o seu lugar vazio, porque o seu tempo acabou, ele se derreteu feito paredão de neve frente à quentura do sol da primavera...
Mas, para quem acredita verdadeiramente em Deus, e eu acredito, um consolo tênue: nós nos reveremos no dia da ressurreição...
Os desígnios de Deus são mesmo imperscrutáveis. Seus pais tinham sonhos lindos pra você, Talita. Mas Deus tinha outros planos para a trajetória da sua vida...
Descanse em paz, Talita... Amém!

VERA FORNACIARI

Um comentário:

Anônimo disse...

R.I.P Talita