A RESPEITO DO GALO CAPÃO, FAZ-SE NECESSÁRIO EXPLICAR QUE:
Bem, muitas pessoas já estão me questionando sobre parte daquela minha dedicatória às mães que têm seus filhos na tal fase do galo capão, citada na justificativa da minha crônica de Natal. Por isso, cabe-me esclarecer:
Já faz tempo... isto é lá da época dos tampeiros bordados a mão, mas o costume ainda sobrevive em algumas vivendas. Os antigos capavam o galo e punham-no chocar no galinheiro em jacás no lugar das galinhas. Este procedimento se justifica pelo fato de que o galo capado engorda muito, fazendo um “rodero” maior, cabendo, desta forma, debaixo de si, muito mais ovos (cerca de 20). A outra razão era que ele mostrava-se muito mais dedicado do que a própria galinha: capado, o pobre galo, que até há pouco reinava com macheza no galinheiro, se transformava no rei da proteção do terreiro, encarnando com perfeição o papel ditado pelo dócil instinto materno feminino. Quanto à alusão que fiz com relação à afinidade do galo capão com o “menino-home,” ela está ligada ao fato de que, quando se castra o galo, ele, às vezes, canta normal, e, às vezes, desafina, tal qual o faz o adolescente que ainda está se auto-afirmando na modulação da voz ao emitir os sons. Logo, referi-me obviamente à tumultuada fase de transição da adolescência para a maturidade, que é cheia de transtornos para os pais. Daí, a dedicatória muito original.
Vale lembrar que o galo capão dos mineiros vira galo estragado para os goianos: nem homem nem mulher - capão!
...Coisas maravilhosas do Brasil interiorano que, para divulgar, faço questão de usar este espaço, já que não pretendo fazer dele um palco de excentricidades, e muito menos uma extensão alienada do meu próprio corpo. Assim sendo, devo dizer que as diversidades são muito bem-vindas e que narrações de cunho regional vividas ou ouvidas por pais e avós por parte dos leitores são desejadas e esperadas por mim, e que elas só vêm a enriquecer o meu trabalho. Eu me interesso por tudo: desde aquelas receitas arcaicas narradas detalhadamente, que estão desaparecendo das nossas tradicionais cozinhas, ao modo como as pessoas viviam ou ainda vivem nas fazendas e nas pequenas cidades do interior. Só assim a tradição resistirá à fugacidade dos tempos modernos. Modos, costumes, roupas, haveres, linguagem (neologismos, ditados, expressões), moradias, ferramentas, tudo faz parte de um rico patrimônio que precisa ser divulgado e conservado para as gerações futuras. Afinal, não é segredo para ninguém que sou apaixonada pela tradição mineira, e muito preocupada com a preservação da tradição do resto do Brasil também!
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quarta-feira, 8 de agosto de 2007
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