segunda-feira, 23 de junho de 2008

Matéria veiculada no Jornal Correio de Uberlândia

A Editora Arx lança hoje, às 19h, na Livraria Siciliano o livro “Amoras, Cerejas, Morangos e...Sapatos Vermelhos”. A autora é Vera Fornaciari, uma paranaense radicada em Uberlândia que se apaixonou por Guimarães Rosa e que dedica boa parte de seu livro à cultura mineira.

É o caso da Oração do Sertanejo das Gerais, que ocupa boa parte do livro e resgata a linguagem dos sertanejos. “Morros, montanhas, salpicados de ipês e fuxicos nas corrutelas, onde as novidades chegam quão devagar, mas na medida certa das leras miúdas e de pudor, e a lama se empossa esbarreando tudo...”.

Vera Fornaciari escreve desde criança. Quando fez sua primeira redação na escola, a professora quis saber de onde ela copiara o texto. “Foi um custo convencê-la de que não era cópia, sempre gostei de escrever e isso inclusive causou a revolta de minha mãe, que preferia me ver aprendendo a bordar e a costurar”, diz a autora.

A escritora ficou 15 anos sem produzir porque preferiu dedicar-se integralmente ao marido e ao filho e retomou as letras no ano passado, quando então decidiu publicar sua obra. A mulher que é mãe cuidadosa e esposa dedicada também aparece no livro de forma marcante.

A crônica “Protesto Feminino” é quase um tratado, uma forma realista de a mulher ver o mundo. “Ser uma mulher madura é essencial para uma relação dar certo: os homens, estes são eternas crianças”, diz a autora. Nos relatos das mulheres de 40, quase cinqüentonas, Vera Fornaciari lembra que “elas (as mulheres) têm consciência de que as implicâncias são cancerígenas para o amor”.

A vida da menina que cresceu no sertão do Paraná passeia por “Amoras, Cerejas, Morangos e...Sapatos Vermelhos”, agora enriquecida pela vivência em Minas. “Aqui estou revivendo minha infância, faço uma deliciosa volta ao passado”, diz a autora, sempre apaixonada pelas coisas da roça.

Esse amor pelo campo aliado às imagens da infância é a marca do livro. Só mesmo um casamento perfeito entre a primeira idade e o amadurecer constante pode resultar em liberdades poéticas como o falar de jabuticabas lembrando as pequeninas saias das meninas nas escolas: “Mas sabe, jabuticabeira, quando tu já ias sem frutos com teus galhos quebrados, desbotados em tom cansado...volúvel, eu migrava para as plissadas saias de outras frutas da estação”.

Outras crônicas, de mulher madura que já sublimou coisas e que ainda ganha tantas outras percepções, trazem frases bem construídas e não menos poéticas: “Faço justiça: as mãos, os joelhos e os olhos deveriam ser vendidos avulsos nos magazines...tamanha falta nos fazem na velhice”.
Serviço: Lançamento do livro “Amoras, Cerejas, Morangos e...Sapatos vermelhos”, hoje 19h, na Livraria Siciliano, no Center Shopping.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Matéria sobre o livro "Amoras, cerejas, morangos e... sapatos vermelhos veiculada no influente jornal Folha de Londrina com cobertura em todo o Paraná

Paranaense à moda mineira
Escritora que também gosta de cozinhar, Vera Fornaciari descobriu uma receita infalível para criar crônicas deliciosas e está lançando seu primeiro livro

Divulgação

‘O projeto do livro surgiu recentemente, ao saber que pessoas desconhecidas publicavam meus textos na internet’, diz Vera



Um bom texto é aquele que provoca um eco no coração da gente; uma sensação deliciosa de saber ‘‘exatamente’’ do que o autor está falando. É uma identificação tão mágica que, às vezes, nos faz ‘‘lembrar’’ de coisas que nós nem vivemos! Você não precisa ter morado no sítio para sentir o cheiro das jabuticabeiras em flor descritas por Vera Fornaciari... quase dá para limpar o sumo das frutas escorrendo pelo queixo, tal como ela deve ter feito, quando menina. A primeira crônica de ‘‘Amoras, Cerejas, Morangos e... sapatos vermelhos’’ não só me levaram de volta à infância mas ainda me deram uma infância rural que eu nunca tive.

O livro é a estréia da escritora Vera Fornaciari, uma quase ‘‘vizinha’’ nossa. Essa paranaense de 46 anos, casada, mãe de um filho, que gosta de fazer doces, nasceu e cresceu em Pirapó, uma cidade pequenina pertinho de Maringá. São crônicas e poesias apresentadas em quatro partes – Infância, Maturidade, Velhice e Recordações. Este pode ser o primeiro livro de Vera mas a impressão é que ela passou a vida treinando para transformar sentimentos em palavras.

Escrever, ela escreve desde criança. Foram as palavras que ajudaram a menina que cresceu no sítio a se livrar de uma solidão que nem ela conseguia explicar. ‘‘Eu não me dava bem com os riscos dos bordados e com as agulhas da costura... e só gostava de ficar paradinha..., pensativa, escrevendo, quando não estava brincando no terreirão ou comendo frutas verdes no pomar. Isto gerava uma certa frustração familiar. Esse tipo de cobrança fez com que eu passasse parte da minha vida achando que havia algo errado comigo...’’, lembra.

No entanto, escrever para si e escrever profissionalmente, para os outros, são coisas diferentes. Vera conta que só descobriu que tinha talento para a coisa quando já estava na faculdade (ela está terminando Publicidade). ‘‘Depois de ficar quinze anos sem escrever uma única linha, escrevi a pedido, por acaso, a crônica ‘‘Amada Maturidade,’’ que fala sobre o charme e sobre a paz da mulher desta idade, e a expus numa feira de artes. O sucesso foi tanto que nunca mais consegui parar. Mas o projeto de publicar um livro surgiu recentemente, ao saber que pessoas desconhecidas publicavam meus textos na internet.’’

Lendo trechos das crônicas, é fácil entender por que as pessoas ‘‘garimpam’’ o trabalho de Vera e o espalham por aí. Ela descobriu um dos segredos da literatura, o de nos fazer embarcar em viagens de descobertas. Morando há onze anos em Uberaba, Minas Gerais, Vera se apaixonou pela cultura mineira e derrama esse amor no livro na forma de descrições deliciosas das paisagens, do povo, dos costumes e comidas.

‘‘Quando cheguei aqui, procurei vorazmente pela famosa ‘mineiridade’, mas não conseguia apreendê-la, materializá-la. Foi quando descobri que tinha de observar e matutar... porque, antes de tudo, ela era um estado de espírito. E assim o fiz. Dizem que deu certo. Também pudera, morando no sítio até a minha adolescência e enfrentando o cabo da enxada até os dezoito anos, ficou fácil comparar os modos de vida e o linguajar rural’’, reconhece.

Um outro tema recorrente no livro é a delicadeza da mulher – contida na sua força, escondida nas suas lágrimas, explosiva nos seus anseios. Vera garante que é feminina, não feminista. Uma das crônicas do livro, ‘‘Protesto Feminino’’, é um grito de indignação, que vai bem além dos sutiãs queimados em praça pública. ‘‘Hoje, a mulher que não trabalha fora é ignorada, ela não existe para a sociedade. E ela já assimilou culturalmente esta rejeição. Por outro lado, ao livrar-se do estigma da mulher ‘do lar’, ao ver o seu trabalho como ‘prioridade máxima’, os nossos lares estão vazios de presença de mãe e de esposa.’’

Esses dilemas, tão humanos, são a matéria-prima das crônicas de Vera. ‘‘Acho que devemos fazer uma profunda reflexão questionando-nos até que ponto realmente vale a pena ‘parecer’ moderna e poderosa aos olhos alheios e aos nossos próprios, ajudando freneticamente o marido a construir pequenos impérios, dando materialmente tudo de bom para os filhos e podendo comprar mais coisas no shopping quando o nosso velho coraçãozinho culpado ainda insiste em estar vazio’’, alerta.

A mulher que escreve também lê. ‘‘Não sou viciada em novidades literárias. Atualmente, estou lendo ou relendo: O Grande Mentecapto, Dom Casmurro, As Cem Melhores Crônicas Brasileiras, Água Viva, Os Melhores Poemas de Cora Coralina.’’

E faz planos para escrever mais. À moda mineira, é verdade – devagarzinho, com calma, e sem ‘‘entregar o ouro’’: ‘‘Os romances, na minha opinião, tomam muito tempo e pedem alta concentração. Gosto de acordar de manhã e decidir na hora o que vou criar. Quando parei de escrever, durante muitos anos, acordava angustiada com o meu dom querendo se extravasar. Agora, estou me sentindo muito em paz e realizada escrevendo poesias e crônicas poéticas, e o depois só a Deus pertence’’.

Pois então, Deus queira que você continue escrevendo, Vera.
Phoenix Finardi
Reportagem Local



Fragmento de ‘‘Amoras, cerejas, morangos e... sapatos vermelhos’’

Fragmento de ‘‘Amoras, cerejas, morangos e... sapatos vermelhos’’
João, por aqui, tudo igual: as montanhas mineiras continuam parecendo um cobertor mal-estendido, algumas gentes continuam roubando no peso, há discórdia nas casas e falta pão. E o governo anda prometendo luz para todos. Ah, João, fico pensando que o sertão alumiado a eito com certeza já não seria o mesmo com a chegada da televisão que raleia as visitas às casas e uniformiza tudo e com a superficialidade da internet. Mas, como sabe, é pra frente que se anda... trago-lhe uma boa notícia, porém: às vezes, ainda se escuta onça miando no cerradão.

- Carta a Guimarães Rosa

É por causa dessa deselegância, por causa dessa mania que algumas mulheres têm de apontar os defeitos das outras para mostrarem-se ‘‘plenas’’, que aqui, em Minas Gerais, rola um ditado lamentável sobre o gênero: ‘‘Quando três mulheres estiverem reunidas, coitada da que sair primeiro...’’

- Protesto Feminino

sábado, 12 de abril de 2008

DISCURSO DO ORLEI MOREIRA NO CERIMONIAL DE VERA FORNACIARI QUANDO DO LANÇAMENTO DO SEU LIVRO: AMORAS, CEREJAS, MORANGOS E... SAPATOS VERMELHOS

Apresentar Vera Fornaciari é uma tarefa ao mesmo tempo simples quanto difícil. Fácil, se formos descrever uma pessoa de alma apaixonada pelas coisas simples, que se encanta com o canto dos pássaros e o rumorejar de um riacho em manhãs de fazendas.

E é um pouco difícil tentar retratar uma mulher que, sem qualquer feminismo, mas com muita feminilidade, defende as mulheres no seu sentido lato de ser, enquanto, ao mesmo tempo, sabe reconhecer o valor do homem enquanto companheiro e como o outro esteio da família.

Vera Fornaciari é esta paranaense que cativou os mineiros e que, em retribuição, dedica seu amor e uma amizade sincera a essa terra que a recebeu tão bem, a ela e sua família.

Foi uma reciprocidade de carinho tão grande que Vera resolveu colocar tudo isso em palavras que foram impressas e que estão imortalizadas neste “Amoras, cerejas, morangos e sapatos vermelhos”. Como os leitores vão notar, é uma obra impregnada de mineiridade, de coisas e expressões tão conhecidas e, ao mesmo tempo, quase esquecidas daqui das Minas Gerais; é recheado de uma saborosa coletânea sobre o mundo feminino, que descortina com rara sensibilidade as nuances do universo encantador de uma mulher.

Este mundo feminino que, para muitos, pode parecer um universo diferente, Vera o transforma e derruba mitos, numa leitura que flui gostosa, deixando cada página virada com sabor de quero mais.

quarta-feira, 12 de março de 2008

noite de autógrafos

NOITE DE AUTÓGRAFOS

Alguns autores já haviam me prevenido de que a noite de autógrafos para um artista assemelha-se a emoção do dia do seu casamento (mesmo sabendo que daí a uma semana, esquecido, provavelmente o seu livro pode ir parar no fundo da loja por causa das crescentes novidades). Mas eu vou mais longe: sexta-feira foi o dia mais bonito da minha vida. Não que casar-me ou tornar-me mãe não tenha sido significativo para mim. Foi. E muito. Afinal, sempre me fascinou a idéia de dedicar-me a algo. Mas nestes dois casos, ambos os episódios já eram aguardados com expectativas pelo meu coraçãozinho ansioso quando aconteceram. Já ver o meu trabalho fazer tanto sucesso no primeiro dia, não.
Naquela sexta vendi uma marca histórica de livros para uma pessoa totalmente desconhecida do meio e que mora no interior; formou-se uma fila enorme que não acabava nunca por quase quatro horas, e centenas de pessoas manifestaram o seu carinho por mim, me dizendo coisas lindas, abraçando-me, beijando-me, tirando fotos comigo. Elas nem sequer se importaram de ficar horas na fila a espera de um autógrafo.
O meu lançamento vem desmistificar a idéia antiga de que o Uberlandense não acolhe bem os seus escritores. Fui acolhida com respeito e devoção por muita gente que nunca havia me visto antes. E ter feito um trabalho sério por meses a fio junto a instituições respeitadas, ter uma editora forte e grandes meios de comunicação atrás de mim também fez toda a diferença.
Mas o grande segredo mesmo é acreditar. E eu sempre disse e repito: o meu livro é lindo!
...Achei tão bonito por parte dos meus colegas e dos meus professores “comprar” meu livro, e não simplesmente esperar por um brinde. E mais comovente ainda foi ver os meus vizinhos menos favorecidos fretarem vans para conseguir chegar ao local e finalmente poder me abraçar e comprar um livro meu. Houve até quem comprasse oito de uma só vez para presentear! Uma verdadeira demonstração de respeito à arte e ao artista que muitas vezes debruça-se por anos sobre a sua obra sem ter o mínimo reconhecimento por parte da sua comunidade quando o seu trabalho é posto à prova.
É muito gratificante a sensação de pertencer verdadeiramente a um lugar, de ser estimado e respeitado por ele. E hoje eu posso dizer de coração que pertenço a este lugar e as estas pessoas que me acolheram. E que um pedaço do meu coração nunca deixará de estar aqui. Mesmo que um dia os meus passos me levem.
Obrigada, Uberlândia!, você deu um show de elegância ao acolher com afetuosidade o meu Amoras, cerejas, Morangos e... sapatos vermelhos.

VERA FORNACIARI